sexta-feira, 2 de abril de 2010
REPUBLICA pela pena de Saramago
Vai para cem anos, em 5 de Outubro de 1910, uma revolução em Portugal derrubou a velha e caduca monarquia para proclamar uma república que, entre acertos e erros, entre promessas e malogros, passando pelos sofrimentos e humilhações de quase cinquenta anos de ditadura fascista, sobreviveu até aos nossos dias. Durante os enfrentamentos, os mortos, militares e civis, foram 76, e os feridos 364. Nessa revolução de um pequeno país situado no extremo ocidental da Europa, sobre a qual já a poeira de um século assentou, sucedeu algo que a minha memória, memória de leituras antigas, guardou e que não resisto a evocar. Ferido de morte, um revolucionário civil agonizava na rua, junto a um prédio do Rossio, a praça principal de Lisboa. Estava só, sabia que não tinha qualquer possibilidade de salvação, nenhuma ambulância se atreveria a ir recolhê-lo, pois o tiroteio cruzado impedia a chegada de socorros. Então esse homem humilde, cujo nome, que eu saiba, a história não registou, com uns dedos que tremiam, quase desfalecido, traçou na parede, conforme pôde, com o seu próprio sangue, com o sangue que lhe corria dos ferimentos, estas palavras: “Viva a república”. Escreveu república e morreu, e foi o mesmo que tivesse escrito: esperança, futuro, paz. Não tinha outro testamento, não deixava riquezas no mundo, apenas uma palavra que para ele, naquele momento, significaria talvez dignidade, isso que não se vende nem se deixa comprar, e que é no ser humano o grau supremo.
(In Diário de Saramago - Imagem: Capa do Livro Postais da República)
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Mais uma bela Crónica de Saramago. Que belo exemplo desse ignorado Republicano que escreveu com o seu próprio sangue o que muitos não foram capazes de dizer com a voz. Republicano III
ResponderEliminarViva a República ! Viva a República ! Viva a República ! Aldino
ResponderEliminarE é este sangue renascido que terá de ser perpetuado!
ResponderEliminarÉ a herança destes homens que terá sempre de arriar as bandeiras que certos parvalhões teimam em içar!
Viva a República!
César
Tem razão o César. Bandeiras colocadas pela calada da noite para lembrar condes, viscondes, condessas e outros que tais, muito obrigado mas prefiro mil vezes a República. Viva ela! As Vozes....
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