quarta-feira, 7 de abril de 2010

Passos Coelho e Cavaco: Eles não se podem ver



A distância entre Aníbal Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho tem dois nomes: propinas e PGA (prova geral de acesso). Estava-se no início dos anos 90, quando o actual Presidente da República era primeiro-ministro e Passos Coelho presidente da JSD.

Como toda a comunidade estudantil, da juventude comunista à juventude centrista, Passos Coelho estava contra a alteração da lei das propinas do então ministro da Educação, Couto dos Santos. A sucessora na pasta viria a demonstrar- -se ainda pior para a JSD: nem mais nem menos do que a antecessora de Pedro Passos no partido, Ferreira Leite.

O projectado aumento das propinas e a posterior tentativa de introdução de uma prova de ingresso ao ensino superior levou os estudantes a manifestarem--se por todo o país, mostrando aquilo a que Vicente Jorge Silva, então director do "Público", chamou "geração rasca". A Jota de Passos estava contra as propinas e contra a PGA.

Houve vários episódios que distanciaram o líder da JSD do governo dirigido por Cavaco Silva. Um deles aconteceu logo no início do mandato de Passos, que sucedeu a Carlos Miguel Coelho. Os dirigentes da distrital do Porto da Jota, melindrados com a sucessão, decidiram não comparecer no primeiro congresso de Passos Coelho. Entretanto, quando Falcão e Cunha, então secretário-geral do PSD, fez as listas de candidatos a deputados, a JSD entendia que um dos seus dirigentes - Luís Nobre - deveria estar em 26.o lugar na lista e não em 29.o, depois dos elementos da JSD do Porto que tinham boicotado o congresso de Passos Coelho. "O que estava em causa não era Luís Nobre - que todo o partido tratava então por Becas - mas a representação da JSD no Parlamento", lembra um vice-presidente da organização de juventude. Passos Coelho teve uma posição firme: ou Becas entrava como 26.o ou Passos não aceitava ser candidato. Ganhou o braço-de-ferro, com a mediação de Manuel Dias Loureiro, forçando a alteração da lista.

A guerra das propinas é o pontapé de saída para uma relação política difícil entre Cavaco e Passos Coelho. Domingos Duarte Lima, presidente do grupo parlamentar do PSD, impôs disciplina de voto à bancada. A JSD tinha nessa altura 13 ou 14 deputados. E só Pedro Passos Coelho quebrou a disciplina de voto, chumbando a lei do PSD. Foi na sequência da imposição de disciplina de voto que Pedro Passos se demitiu e convocou um congresso extraordinário da JSD, no qual voltou a ser eleito com maioria reforçada.

O próprio Luís Nobre, hoje advogado, considera que a guerra das propinas foi "uma verdadeira hecatombe", e que na altura foi determinante. "O PSD perdeu nessa altura a JSD porque esta perdeu o país", explica Luís Nobre. Os estudantes estavam na rua e não percebiam o sentido de votação do partido social- -democrata. A partir daí as relações foram muito más.

Por fim, a separar Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho, há o percurso pessoal do novo presidente do PSD. Pedro Passos Coelho cometeu um pecado capital, na perspectiva do antigo presidente do PSD. "Veio para Lisboa para cursar a universidade e ficou sete anos no primeiro ano de Matemática. Para Cavaco isso era determinante", resume um cavaquista. A verdade não é exactamente essa. Passos de facto desistiu do curso de Matemática porque não conseguia conciliar as aulas com a presidência da JSD, o cargo de deputado e a vida familiar. Aliás, anos mais tarde, quando voltou à universidade, mudou de curso, licenciando--se em Economia - tendo sido o melhor aluno do seu curso uns anos mais tarde do que teria parecido bem ao antigo primeiro-ministro.

Mas o próprio Passos Coelho não tem problemas em afirmar que a sua relação com Cavaco Silva "não foi politicamente fácil" e que o contraste entre o discurso de encerramento e a primeira reunião da JSD com o primeiro-ministro "não podia ser maior". Cavaco, escreve Passos, "parecia algo desconfiado e tenso". Um membro da direcção da Jota dessa época recorda ao i que "Cavaco deveria achar o Pedro insolente". "Acredito que a partir de certa altura me tenha tornado um pouco incómodo", admite o novo líder do PSD. Afinal, foi a JSD que obrigou Cavaco a recuar no pré-acordo com Soares e o PS para a aprovação da amnistia aos presos das FP-25, ameaçou não votar o Orçamento pós-propinas e pediu a Marcelo Rebelo de Sousa para elaborar um projecto de revisão constitucional alternativo ao do PSD. Chega? Com Ana Sá Lopes

(In Jornal " I" - )

1 comentário: