sábado, 31 de outubro de 2009
CINETERAPIA
Nós, os fordianos, somos uns lamechas. Não resistimos a uma justa e longa greve, especialmente se for de mineiros galeses. E ficamos encantados quando se castiga o clérigo odioso. Derretemo-nos quando se faz frente à hipocrisia, maldade e cobardia do puritanismo. E que dizer de uma boa sova num mestre-escola psicopata? Enche-nos a alma de entusiasmo e faz-nos soltar olímpicas gargalhadas. São assim os fordianos, perdidos de amor pelo divino coração do povo, pela humana justiça de Deus.
Este colosso de ternura luminosa cometeu o sacrilégio cinéfilo de ter roubado o Oscar de Melhor Filme a Citizen Kane, a obra-prima que estava destinada a tornar-se, décadas mais tarde, no cliché de ser o melhor filme de sempre. E Ford ainda se agarrou ao Oscar de Melhor Realizador, num páreo que incluía gabirus do tamanho de Orson Welles, Hitchcock, John Huston e Howard Hawks. Para o vexame ser completo, tratou-se de uma dobradinha nesta categoria, no ano anterior tinha ganhado com The Grapes of Wrath. Enfim, esperar que a Academia tenha os critérios de gosto dos Cahiers devia estar sujeito a pesada multa.
O Vale era verde, mas foi filmado a preto-e-branco. O Vale era em Gales, mas foi filmado na Califórnia. O Vale era uma adaptação de um romance, mas transformou-se no romance da adaptação de cada um à imortalidade do que ama e de quem ama. Mas se achas este paleio demasiado lamechas, poder contemplar os estonteantes 19 anos de Maureen O’Hara chega e sobra para entrar no Vale.
(In Blog " Aspirina -B -Imagem: Net)
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Que belo é o Vale era verde. Verde esperança, verde lembrança, verde num preto e branco magnificos. A imaginação conta muito. Milla
ResponderEliminarVIU esse filme há uns anitos mas agora que aqui foi lembrado vou ver se o consigo em DVD. Obrigado. Tony
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