terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PARTIU ART BUCHWALD




Há pessoas que nos fazem detestar a América e há pessoas que nos fazem adorar a América. Na primeira categoria está, bem à frente, o actual presidente dos Estados Unidos. Na segunda esteve, até há poucos dias, o Art Buchwald. Provavelmente muitos dos leitores não sabem quem foi o Art Buchwald. Eu diria que foi um dos meus mestres nesta coisa de escrever colunas para os jornais, muitas vezes usando o humor para comentar coisas sérias. No caso dele o humor estava praticamente sempre presente. Se se quiser perceber a importância do Art basta ter em conta que, no seu ponto mais alto, ele escrevia 3 vezes por semana e as suas crónicas eram publicadas em 400 jornais dos Estados Unidos e em mais 100 países do mundo. E, até ao fim, não perdeu o seu sentido do humor. Sabendo que a morte estava próxima deixou-se filmar a dizer: “Sou Art Buchwald e acabo de morrer” E foi através deste anuncio tão pessoal que o mundo soube, agora, da sua morte. Durante muito tempo fui lendo as crónicas dele onde as ia conseguindo apanhar, fosse nos vários jornais onde eram publicadas, fosse nos livros onde eram antologiadas. Sempre com o enorme prazer de ler textos inteligentes e sarcásticos que me deixavam sempre com um sorriso nos lábios. Não posso deixar de imaginar que as trovoadas dos últimos dias devem ser as gargalhadas, lá no Céu, com as piadas que ele deve andar por lá a contar. Como digo acima, considero o Art como um dos meus mestres. Não o primeiro, porque já o descobri tarde demais para isso. Já antes me tinha deixado encantar por um cronista português, o Artur Portela Filho, que me conseguia arrancar gostosas gargalhadas com o seu humor político venenoso. Acabei por o conhecer pessoalmente, muitos anos mais tarde, aqui em Maputo e, lamento dizer, por o achar menos interessante como pessoa do que como cronista. Outro dos meus mestres, felizmente vivo e activo, é o brasileiro Luis Fernando Veríssimo, que leio regularmente, com extraordinário prazer, há já bastantes anos. Tudo gente que sabe, ou soube, agarrar em pedaços da vida de todos os dias e transformá-los em textos que nos ajudam a compreender os acontecimentos e, ainda por cima, a rirmo-nos deles. Para terminar vou contar uma história sobre o Art. Nos anos 50/60 do século passado, a fúria anti-comunista nos Estados Unidos estava no seu ponto mais alto. O que não quer dizer que não houvesse um Partido Comunista, perfeitamente legal. Partido de pequeníssimas dimensões, diga-se. E muitíssimo vigiado pelas autoridades. Pois nessa altura o bom do Art, num dos seus textos, disse alguma coisa deste tipo (cito de memória): São precisos mais comunistas, porque, se não houver mais comunistas, corremos o risco de o Partido Comunista passar a ser formado exclusivamente pelos bufos da Polícia.” Numa das suas últimas entrevistas, pouco antes de morrer, perguntaram-lhe qual era a herança que deixava ao mundo. A resposta foi: “Alegria”. Dito de forma entusiástica. Obrigado por tudo, Art.
Machado da Graça, in "Jornal Savana", Maputo, 09.02.2007

( Post de António Oliveira - In Blog Estrada Poeirenta - Imagem: Net)

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