sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

«Balanço do "Deve e Haver" Filial »



« Eu creio na Justiça mas defenderei a minha mãe antes da Justiça...» Albert Camus...»

Obrigado porque tiveste na tua vida um lugar para a minha vida, renunciando a tantas coisas boas que poderias ter saboreado. Porque - mais do que isso - fizeste da tua vida um lugar para a minha. E de muitas maneiras morreste para que eu pudesse viver:
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Porque não eras corajosa, mas tiveste a coragem de embarcar numa aventura que sabias não ter retorno.
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Porque não fizeste as contas para avaliar se a minha chegada era conveniente: abriste simplesmente os braços quando eu vim.
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Porque não só me aceitaste como era, como estavas disposta a aceitar-me fosse eu como fosse. Porque dirias "o meu filhinho" mesmo que eu tivesse nascido deformado e me contarias histórias ainda que eu tivesse nascido sem orelhas. E me levarias ao colo mesmo que eu fosse leproso. E, mesmo com tudo isso, me mostrarias com orgulho às tuas amigas. Porque seria sempre o teu bébé lindo.
Devo-te isso, embora não tenha acontecido, porque o farias.
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Obrigado porque não tiveste tempo para visitar as capitais da Europa. Porque as tuas amigas usavam um perfume de melhor qualidade que o teu. Porque, sendo mulher, chegaste a esquecer-te de que havia moda.
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Porque não te deixei dormir e estavas sorridente no dia seguinte. Porque foste muitas vezes trabalhar com manchas de leite na blusa. Porque me sossegaste dizendo "não chores, filho, que a mãe está aqui", e estar no teu regaço era tão seguro como dormir na palma da mão divina.
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Obrigado porque não tiveste vergonha de mim quando eu fazia birras nos museus, ou me enfiava debaixo da mesa do restaurante porque queria um gelado antes da comida. E porque suportaste que eu, na adolescência, tivesse vergonha de que os meus amigos me vissem contigo na rua.
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Obrigado porque fizeste de costureira e aprendeste a fazer bolos. Porque fizeste roupas e máscaras para as festas da escola. Porque passaste uma boa parte dos fins-de-semana a ver jogos de futebol para que - quando eu perguntasse "viste-me, mãe, viste-me?" - pudesses responder com sinceridade e orgulho "é claro que te vi !".
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Obrigado pelas lágrimas que choraste e nunca cheguei a saber que choraste. Obrigado porque ralhaste comigo quando me portei mal nas lojas, quando bati os pés com teimosia, quando "roubei" batatas fritas antes de o jantar estar servido, quando atirei a roupa suja para um canto do quarto. Obrigado por me teres mandado para a escola quando não me apetecia e inventava desculpas. E por me teres mandado fazer tarefas da casa que tu farias melhor e mais depressa.
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Obrigado por teres mantido a calma quando eu num dia de chuva fui arranjar a bicicleta para a cozinha. Obrigado por teres querido conhecer os meus amigos, e por todas as vezes que não me deixaste sair à noite sem saberes muito bem com quem ia e onde ia.
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Obrigado porque eu cresci e o teu coração parece ter também crescido. Porque me deste coragem. Porque aprovaste as minhas escolhas, e te mantiveste a meu lado apesar de ter passado a haver a distância. Porque levantas a cabeça - mesmo sabendo que eu estou muito longe - quando vais na rua e ouves alguém da multidão chamar: "mãe!".
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Obrigado por guardares como tesouros os desenhos que fiz para ti na escola quando era o Dia da Mãe. E por ficares à janela a ver partir o carro, quando me vou embora, comovendo-te com os meus sinais de despedida.
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Obrigado - já agora... - por não teres esquecido quais são os meus pratos favoritos; por a arrecadação da tua casa poder ser uma extensão da arrecadação da minha casa; por teres ainda nos mesmos sítios as minha bugigangas ...

(Publicado por Cesar Ramos no Blog Alfobre - Imagem: Escultura brasileira de autor desconhecido)

5 comentários:

  1. Uma boa prosa. Quem não gopdtará de dedicá-la à sua mãe ? Alan

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  2. É sempre um prazer ler algo que nos toca o coração. Acontece aqui com este escrito . Silvia

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  3. Belo texto . Um agradecimento que pode ser da maior parte de nós. Boa noite para todos. Nelsin

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  4. O texto extraído do Blog de Cesar Ramos é na verdade a expressão da gratidao que a maior parte de nós temos pelas nossas mães. As Vozes...

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  5. Boa escolha. Também sou apreciadora dos textos de Paulo Geraldo. Há muitos outros em http://cidadela.net.
    Beijos.

    Rita

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