terça-feira, 13 de julho de 2010

O ESSENCIAL......



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!”

Mário de Andrade
(1893-1945)

(In blog louletano seBASTIÃO de António Almeida )

3 comentários:

  1. Atentai bem, como houve pessoas que escreveram há já tanto tempo esta realidade que sentimos ir crescendo em cada um de nós e, nunca nos chegou à língua, ou à mão, a ideia de dizer, ou de escrever, tantas verdades (...)

    É de facto essencial, e muito bom, reflectir sobre as sábias palavras
    deste post das Vozes!

    Parabéns pela excelente selecção.

    Aquele abraço.
    César

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  2. Também como o Cesar acho muito bem reflectir sobre as sábias palavras do Mário de Andrade apesar de desaparecido há mais de 60 anos. Tiagus

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  3. Que texto magnifico. Vale a pena lê-lo mais do que uma vez. Fernando

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