quinta-feira, 15 de julho de 2010

Este homem que nos coube em sorte



O doce embalo de julgar que cumpre um destino tem levado o dr. Cavaco ao incomparável incidente de ser preceptor das nossas vidas. Desde a rodagem de um carro até que os acasos da fortuna e os desacertos da História o empurraram para lugares cimeiros da Nação nada de entendível esclarece o enigma. Nenhum estudo fervoroso e incessante desanuvia a nossa pobre e obnubilada perplexidade. Foi um primeiro-ministro medíocre; é um Presidente da República sem estofo. Quando fala, o discurso é ambíguo, desbotado e triste, quando não funesto.

Acontece vezes de mais. Uma delas foi há poucos dias, numa daquelas cerimónias em que senhores consideráveis e visivelmente bem instalados discreteiam sobre a redenção da Pátria e a salvação do povo. Aí, o dr. Cavaco falou. Quando o dr. Cavaco fala, ninguém resiste à sagacidade portentosa das suas meninges.» [DN]

( In Diário de Notícias - Baptista Bastos - Imagem: Pintura de Jacek Yerke)

4 comentários:

  1. Mais um bom artigo de Baptista Bastos. Coisas que a gente deseja dizer às vezes mas não temos jeito. O Diário de Notícias lá vai escapando uma de vez enquando. Faz bem, já que o panorama geral dos jornais está a baixo de qualquer coisa que se possa chamar de jornalismo sério.
    Miguel II

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  2. Baptista Bastos é um dos dignos sucessores de Mário de Andrade, pela forma esclarecida como sempre se pronuncia.

    Até quando, vamos tendo estas luzes intelectuais que nos mostram o que sabemos mas, não temos dimensão, nem espaço para labutar através da escrita?

    Afinal..., um dia,
    vamos lutar como?

    Os 'arautos' da auto-estima, convém-lhes agora dizerem que o 1º Ministro é excessivamente optimista!!

    Ai é...?!

    E eles, que são... afinal?

    Recoveiros (...) ou coveiros
    oficiosos
    de Portugal.

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  3. Cesar: Um dia preso por ter cão de fila e outro dia preso por ir na fila com o cão rssss.O que é certo é que estes grandes nomes do jornalismo que vão desaparecendo aos poucos já que a vida é mesmo assim, não se vislumbra no horizonte grande coisa. A maior parte do jornalismo que se vê é de encomenda de um qualquer patrão. Mas esperemos que mesmo nos novos nomes vão surgindo, apareça gente que não se venda por dez reis... como se dizia em tempos que já lá vão. Saudações .
    As Vozes....

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  4. Estamos talvez condenados a mais do mesmo, embora na politica como na vida tudo possa acontecer . Baptista B. tem olho de águia. Em poucas linhas está tudo dito. Manuel Joaquim - Quarteira

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