quinta-feira, 17 de junho de 2010

S a r a m a g o



Catorze de Junho
Por Fundação José Saramago

Cerremos esta porta.
Devagar, devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos.
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos? O mundo seja,
Como um barco no mar, ou pão na mesa,
Ou rumoroso leito.
Não se afastou o tempo. Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo.

(In Poesía completa, Alfaguara, pp. 636-637 - Cadernos de Saramago)

7 comentários:

  1. As Vozes dos outrros "18 de junho de 2010 às 06:32

    Quando ontem à noite colocámos este poema de Saramago, estávamos longe de algumas horas depois escutar o anuncio da sua morte. As "Vozes dos Outros" prestam assim homenagem humilde a um grande homem das Letras de Portugal.

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  2. Algumas carpideiras de ocasião dirão agora coisas do outro mundo. Não sendo eu um defensor da causa politica de Saramago separo neste momento as águas entre a sua estatura de grande homem de letras da outra. Que repouse em Paz. Mena

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  3. Saramago embora tendo sido uma figura controversa toda a gente reconhece nele um grande escritor. Não se ganha um Prémio Nobel por acaso. Belinha

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  4. Esta premonição de As Vozes, deitou-me por terra qualquer vontade de escrever.

    Foi saber a notícia, "abrir" o computador e ler este poema!

    Quis escrever qualquer coisa, mas não deu certo; e, agora mesmo, também não tenho nada de jeito para dizer que o mundo não tenha para aí carpido já, e... muitos deles à 'comissão'!

    É sabido que em breve vamos ter o tal Livro secreto que ele legou à posteridade «pós mortem»: "A Clarabóia".

    Ainda não entendi bem se trazê-lo para cá, não será ofender a sua memória!

    Parece que estamos a "raptar" alguém, antes que os espanhóis se lembrem de dizer que o Prémio Nobel é deles!

    Com "Luto Nacional" [o que é justíssimo], vamos ter cerimónias de Estado com tudo o que Saramago vai ter direito!

    Até o sapo que Cavaco Silva vai ter de engolir, pelo facto de o ter condenado ao ostracismo!

    É uma parte nossa que partiu, mas como aqui já temos dito, ninguém morrerá se não for esquecido!

    E... não é possível esquecer Saramago pela obra deixada, pela vida vivida e pela coerência e firmeza do seu carácter (...)

    Mesmo os discordantes terão de aceitar que o intelecto dele não passou só pela escrita, mas afirmou-se também na sua conduta como homem e pensador.

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  5. Cesar: Nem só Cavaco terá de engolir o sapinho, certamente também outros seus irmãos de partido e que na altura do Nobel fizeram a sua parte indigna de portugueses de terceira, terão que se escapulir para qualquer parte pois devem concerteza sentir quão indignos foram. As vozes........

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  6. E falando como estavam do Presidente da República aí está mais uma acto seu que não dignifica a Presidência. A falta de comparência nas cerimónias fúnebres do grande escritor mundial, demonstram a tacanhez e a falta de humildade por parte do Snr. Presidente. É pena ter que dizer isto mas é ele que diz que é o Presidente de todos os portugueses. Kino

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  7. Ele será presidente de todos os portugueses que forem da laia dele!

    Desculpem o desabafo!

    César

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