quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Crónica de uma morte........




"Mas será que ninguém vê qual o verdadeiro culpado nesta história toda!!? Sim claro que é o C Castro! Estragou a vida do rapaz... Vai ser julgado quem menos culpa tem!!!!"

Desconto de tempo: Detestava o Carlos Castro, era-me profundamente repulsiva aquela pose emproada e vaidosa, aquele tom convencido e arrogante, aquela postura intriguista, mundana, fútil. Personificava o que sempre execrei nos media: a vantagem do meio de comunicação para promover a imbecilidade; aquelas crónicas da Daniela, aqueles juízos idiotas, as elegantes vs. as pirosas em sentenças verrinosas, gratuitas, vazias, alinhadas nas revistas apenas para promover a má-língua e a intriga, o lado mirone que habita em cada um de nós. Sempre me irritaram as loas que cantavam ao seu trabalho, disfarçando as futilidades sob a capa do "controverso", do "polémico", do "não ter papas na língua". Até ouvi vários designá-lo por "jornalista". Fim de desconto.

Confesso que foi com um sorriso que recebi o cochicho, há dias, da sua morte. Julguei que estivessem a brincar comigo. Quando percebi que a pessoa que acabara de me dar a notícia não estava a gracejar, o sorriso desapareceu, sobretudo quando ouvi o comentário final: "sim, ia com um puto de 20 anos, já se sabe...". Depois, o espanto e o choque com o caso, as circunstâncias e os pormenores macabros do assassinato. Por fim, a indignação com o processo de lavagem do alegado assassino. Esta lavagem não decorre da existência de dúvidas, suspeitas de encobrimento ou incriminação por terceiros ou, sequer, atenuantes (acidente, legítima defesa, etc.); decorre, tão-somente, do facto de Carlos Castro ser homossexual e de ter uma relação com o alegado assassino. E isto, aos olhos do Portugal de 2011, quase 40 anos depois do 25 de Abril, o país que pertence à Europa Comunitária há mais de 20 e que se considera um farol de humanismo e de tolerância no mundo, é ainda algo que as pessoas não aceitam, não engolem e não perdoam. E que, em última instância, acaba por imputar uma "culpa" e um "merecimento" à vítima.
( ... )

( Por Paulo Pinto no Blog " Jugular" - Imagem: Net )

3 comentários:

  1. Naturalmente que os machos lusitanos defenderão o criminoso. A coisa está demorada a chegar às cabecinhas desta gente. Quanto ao profissional Carlos Castro e as suas crónicas eram realmente qualquer coisa de pôr os cabelos em pé. Para lá disso. Que receba o castigo merecido o Autor e que descanse em paz a vítima. Vimeiro

    ResponderEliminar
  2. Bem visto o que escreveu o Paulo Pinto sobre o malogrado Carlos Castro que alimentou um certo tipo de pessoas que gostam da mesquinhice, do diz que disse e da intriga mais pobrezinha. Apesar disso fiquei triste com o desaparecimento deste homem às mãos de um pobre Louco ? drogado ? frustrado ? Não posso julgar ninguém mas a Justiça certamente fará o que tem a fazer. Milenne

    ResponderEliminar
  3. Um crime hediondo. Pena que já se façam anedotas e historias à volta da desgraça dos outros como se se tratasse de um bebedeira ou coisa assim. Vivemos num mundo sem sensibilidade. Uma Era marafada esta ! Marco

    ResponderEliminar