terça-feira, 28 de abril de 2009

HISTÓRIAS DO 24



Ano de eleições, provavelmente as de 1961. Café de Lisboa, a PIDE à solta, sempre tão omnipresente quanto invisível. O meu pai tinha decidido levar-me com ele ao acto eleitoral. Anteriormente, e perante a minha curiosidade, tinha-me explicado em traços largos o que era votar. Também adiantou que iria votar contra o Salazar porque havia muitos problemas no país e que tinha que haver uma mudança. O meu pai calmamente a tomar a bica, a ler o jornal do café, e eu mal me podendo conter na expectativa de ir colaborar numa aventura tão fantástica e decisiva. Até que, não aguentando mais a impaciência, exclamei, assim para o alto: “ Óh pai, então quando é que vamos tirar de lá o Salazar?”.

O meu pai ficou de todas as cores, olhou para todos os lados e rapidamente pegou-me na mão e levou-me dali para fora. Uns passos à frente e alguém a chamar com voz grossa “Óh senhor, óh senhor, espere aí, se faz favor!”. Através da mão do meu pai senti como que se lhe tivesse caído um raio em cima.

“É que o senhor, certamente por distracção, levou o jornal aqui do café!” Suspiro de alívio do tamanho do mundo, mas que naturalmente não chegou para aliviar o clima constante e generalizado de falta de liberdade, perseguição e suspeição reinantes.

(Texto de Alfredo Leal Franco - Blog - A Defesa de Faro - )

2 comentários:

  1. Interessante essa história dos tempos do Snr. de Stª Comba. Velhas histórias que parecem ficção nos dias de hoje. Salgado

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  2. Parece-me que a Câmara PSD de Stª Comba tem saudades desse tempo aureo do Dr. Oliveira. Será que não havia personalidades portuguesas que contribuiram para a cultura, para a politica ou mesmo para a ciência, que merecessem o seu nome nesse largo ? Nelson

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