sábado, 12 de março de 2011
Olhar o Japão a pensar em Lisboa
«Um dia de imagens. Uma maré de tudo, que avança por campos cultivados como para nos mostrar o significado da palavra "inexoravelmente". Os carros a vogar de pescoço mergulhado e traseira alçada, porque a indústria automobilística japonesa os faz de motor à frente. O patinho de plástico e amarelo apanhado no remoinho de ralo de banheira que não são nem um nem outro: é um barco perdido no remoinho de toda uma baía. Um comerciante agarrado à prateleira da sua loja, como se tudo a salvar fosse ela. Carros que desejamos vazios, sabendo que é voto piedoso: há luzes acesas. Os japoneses de Fukushima na emergência de saber que o horror nuclear não acontece só quando o homem quer. Um aeroporto onde o lodo aterrou. Dois homens abraçados, encostados a um pilar, e, se calhar, foi a Natureza que os apresentou. A torre, símbolo de Tóquio, ontem símbolo de Tóquio ontem: com a antena torta. Num vídeo, a surpresa de no previdente Japão ainda haver um candelabro... Em Cândido ou o Optimista, Voltaire pôs Cândido a chegar a Lisboa no dia do terramoto de 1755. O seu amigo Pangloss dizia-lhe que se vivia no melhor dos mundos e a prova era que Cândido acabava a comer pistácios apesar de toda uma vida infeliz. No fim do romance, Cândido, menos optimista, respondia: "É verdade, mas o melhor é cultivarmos o nosso jardim." Os lisboetas viam as imagens de ontem com a suspeita de que não têm cuidado do seu jardim. » [DN]
Autor: Ferreira Fernandes. D.N. In Blog O Jumento - Imagem: Net
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Os Japoneses dada a sua situação geografica estão há muito preparados para este tipo de tragédias mas mesmo assim ela foi tão forte que é o que se vê. Inacreditável. Se fosse por cá ruiria tudo. Não sei até que ponto poderemos preparar-nos para uma coisa destas..... Será possível ? Quantos anos demoraria ? Que dinheiro seria preciso ? Raul
ResponderEliminarAndamos a pedir toda a vida para que esta coisa não nos aconteça. O mesmo devem fazer os outros. Mas todos estamos debaixo do mesmo tecto. Lia
ResponderEliminarOu por cima do mesmo chão.
ResponderEliminarOu todos ainda metidos numa grande lata de conserva com molhos dos mais diversificados que a qualquer momento podem envenenar-nos. Nico
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