domingo, 20 de março de 2011

A Cova do Lagarto



«A cova do lagarto» de Filomena Marona Beja

Romance sobre o tempo e a vida de Duarte Pacheco, ministro das Obras Públicas do Estado Novo, este livro mostra uma visão poliédrica deste homem especial que «Via para além do que olhava» e era avesso a favores: «Duarte não concedia favores: Não ficava, ele próprio, a dever ao Estado».

De um lado o país («O nosso país será pobre mas isso não é desgraça. Desgraça será o atraso») do outro lado Salazar, o padreca sem coroa: «Artigos no jornal Novidades. Palestras no Centro Católico. As suas lições de cátedra, na Universidade».

Homem diferente, especial e veloz, respondeu um dia sobre o casamento: «E alguma vez eu tive tempo para isso?» Um dia em 1942 descobre que «Numa emergência ninguém podia descolar de Lisboa. Dependia-se dos hidroaviões, do rio» logo propõe o novo aeroporto (ou seja «um campo destinado à aviação civil») e a resposta é «Autorizo. Construa-se». A sua paixão pela velocidade faz com que nas grandes obras «já havia máquinas a betumar e ainda por lá andavam galinhas». As mesmas galinhas que Carminha, a sua irmã referia a propósito do amor: «Observando a capoeira, concluíra que até as aves ficam deprimidas depois da galadura». Para uns era o homem «Providencial» e capaz de hipnotizar os companheiros, para outros o vencedor de uma teia de obstáculos: «rotina, burocracia, bajulação, falta de quadros técnicos, de apoios, de verbas, de compreensão». Morreu no automóvel de serviço perto de Vendas Novas no desnível da estrada a que chamam a cova do lagarto.

(Sextante Editora, Capa: Henrique Cayatte/Susana Cruz, Nota: Miguel Real)
In Aspirina B José do Carmo Francisco.

1 comentário:

  1. Duarte Pacheco foi mesmo o Ministro que Salazar teve embora este lhe fizesse frente o que o ditador detestava tendo até segundo dizem chamado a atenção do Ministro por várias vezes. Dois teimosos mas Pacheco pelo menos sabia o que fazia embora por vezes a direito e sem olhar a quem. Francis

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