quinta-feira, 10 de maio de 2012
Privatizar espiões é emagrecer Estado.
«O cerco aperta-se. O Ministério Público já deve ter reparado que as minhas crónicas estão cheias de "li no Público...", "como dizia Le Monde..." Os magistrados não são tolos, vão relacionar-me com o escândalo do SIED e de Jorge Silva Carvalho. Este, depois de se demitir de superespião e ter ido para a Ongoing, continuou a receber o clipping dos serviços secretos e distribuía-os por privados. Ora, apesar do nome inocente, clipping não quer dizer entortar fios de arame para material de escritório: esse serviço consiste em fornecer recortes de jornais. É das aventuras mais perigosas de um espião português: contactar um agente adormecido, que é como costumam estar os velhotes dos quiosques, e depois de municiado de resmas de jornais, ir, rasando os muros, para a sede. No gabinete sem janelas, o agente secreto recorta os jornais. Como só há uma coleção (crise...), os segredos locais (por exemplo: "o gato de Honório Novo chama-se Gaspar") vão para o SIS, segurança interna, e os internacionais, para o SIED, segurança externa. Aqui entra outra coincidência que me incrimina: no meu jornal há quem me chame "grande recórter" por andar a cortar jornais e a distribuir notícias... Ainda vou acabar por ser o único incriminado no processo. Sim, porque o ex-espião Silva Carvalho, acusado de pôr atuais espiões a trabalhar para os privados, tem álibi: não é essa a moda? Se se fala de privatizar cemitérios e prisões, por que não, espiões?» [DN]
Autor:
Ferreira Fernandes. In Diário de Noticias.
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Mais uma bela cronica de Ferreira Fernandes. Parabéns ao grande jornalista que é.
ResponderEliminarCarlos