quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O choque ortográfico



mas repito que mantenho uma posição ambivalente em relação ao acordo ortográfico. Adotei-o por motivos muito práticos, reconheço-lhe virtualidades mas também imperfeições, e não faço questão de «tomar partido» de maneira unívoca num campo, como o da língua, que se intromete no mais fundo da nossa personalidade e da nossa matriz cultural coletiva. Oiço e dialogo, num esforço de racionalização dos argumentos que enfrenta uma espécie de clima de guerra não-declarada, na qual uma das partes, aquela que a iniciativa legislativa derrotou, é por isso mesmo particularmente venenosa.

Só que esta condição de derrotada com vontade de desforra tolda-lhe os argumentos: uma grande parte dos textos e artigos anti-acordo que tenho lido em jornais, blogues e redes sociais é muito má, usando de forma recorrente uma retórica de «redução ao absurdo» que integra hipóteses sem pés nem cabeça, situações e escolhas do legislador sistematicamente inventadas, casos impossíveis que jamais se colocaram («o que seria se…», «imaginem que…», «suponham lá…», «e se optássemos por…», etc.). São estratégias que tendem a subvalorizar a inteligência do leitor e essa não é com toda a certeza uma boa forma de convencimento.


(In Blog " A Terceira Noite " )

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